sábado, 22 de dezembro de 2012

Os rumos da revolução (Parte III)

Liberdade!


Nos dois últimos textos (Parte I e Parte II) falei sobre a causa e as consequências iniciais da Primavera Árabe. Agora, para finalizar, abordarei mais alguns casos específicos e colocarei em pauta os problemas que serão enfrentados pelos governos.

Na Tunísia, secularistas venceram mas agora sofrem; na Síria o sectarismo é cada vez maior

A Tunísia é o berço da Primavera Árabe. Foi lá que, em 2010, o comerciante Mohamed Bouazizi colocou fogo em seu próprio corpo e "acendeu" a revolta (não foi um trocadilho proposital). Posteriormente à queda do presidente Ben Ali, o secularista Moncef Marzouki foi eleito. O problema é que agora ele enfrenta quase os mesmos problemas que Ben Ali.

A população está cansada de sofrer. Está cansada de passar fome e de ser subjugada. Marzouki não é um ditador, muito pelo contrário, mas ele não pode até agora atender os anseios da população. Racionalmente falando é impossível que ele consiga reverter o quadro econômico de um país tão castigado em menos de dois anos. Não há como. Mas também não há como explicar isso para alguém que está sem emprego (o desemprego aumentou na Tunísia) e precisa sustentar sua família.  Em recente visita a Sidi Bouzid (cidade de Bouazizi), o presidente Marzouki e seu primeiro-ministro foram recebidos a pedradas. E isso só abre um espaço cada vez maior para os conservadores islâmicos, que já conseguiram angariar um grande número de simpatizantes. 

Na Síria, o conflito ainda está longe de ser resolvido. O presidente Bashar Al-Assad e seu exército, predominantemente alauíta, ainda resistem aos ataques rebeldes. Estes, por sua vez, foram reconhecidos por potências internacionais, conquistaram territórios e bases significativas mas ainda não têm condições de depor Assad. Nisso, o sectarismo aumenta cada vez mais. Aqueles que estão ao lado de Assad -principalmente alauítas e cristãos- tendem a sofrer se o próximo governo for islâmico.

Alguns diziam que antes da guerra civil a Síria era um paraíso de diversidades. Outros eram mais realistas dizendo que o país era um caldeirão de água pronta para entrar em ebulição a qualquer momento. Quem controlava isso era a família Assad, mas pelo visto Bashar nunca teve o pulso de seu pai Hafez. Com a oposição fragilizada, o muçulmanos fundamentalistas tiveram espaço para a agir e mostrar a "mão amiga" para os necessitados. É difícil prever o que acontecerá na Síria nos próximos tempos.

O que esperar daqui para frente?

Até agora, vimos que os primeiros governos que se instauraram -secularistas ou islâmicos- estão tendo problemas para se manterem firmes graças a impaciência da população já cansada de sofrer. Isso vai dificultar um pouco as coisas a menos que medidas rápidas e satisfatórias sejam tomadas. Uma delas, no caso do Egito, seria o abrandamento da Irmandade. Em artigo recente para a Al-Jazeera o professor Mark LeVine disse algo muito correto: que a tendência de determinados partidos quando chegam no poder é o abrandamento. Isso não acontece por uma questão ideológica, mas sim pelo ímpeto de quererem ficar onde estão.

Voltando a falar sobre economia, todos estes países precisarão de ajuda externa para se reerguerem (a Síria principalmente). Sendo assim, empréstimos como os que o Egito realizou serão comuns. Contudo, para que o FMI libere este dinheiro os países precisam fazer um acordo de corte de gastos (assim como na União Europeia, com o memorando). Em outras palavras, precisam passar por um período de austeridade que vem tradicionalmente após mudanças tão radicais.

Agora vamos pensar um pouco pelo lado da população: será que vai ser fácil aceitar isso? A resposta é clara e muito óbvia, não. Muitas dessas pessoas já enfrentaram dificuldades ao longo de suas vidas e não querem passar pela mesma coisa. A diferença é que agora eles não hesitarão em protestar quando necessário e isso dificultará as coisas para os governos.

Um comentário:

  1. Boa tarde Gilmar, tudo bem?

    Gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho que realiza neste Blog. Sempre estive em busca de um local onde poderia encontrar comentários das principais notícias internacionais de forma dinâmica, acessível e crítica, e confesso que seu Blog proporcionou isso a mim, seja pelas "inspirações" (como você mesmo coloca) ou pelos seus próprios artigos. Espero que você continue alimentando esse espaço, que é o caminho seguro para uma obter uma posição de maior destaque na imprensa, daqui alguns anos. Abraços!

    João Victor Gonçalves

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