sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Dilma precisa de um tradutor

Este blog foi criado para tratar apenas de assuntos internacionais, em virtude de minhas fortes opiniões a respeito da política brasileira. Entretanto, ao ler a resposta completamente incoerente da presidente Dilma Roussef ao artigo da revista Economist, não pude me conter.

Imagem que ilustrou a matéria na Econimist.

O que os veículos de comunicação brasileiros divulgaram foi o seguinte: a Economist sugeriu uma uma demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega. E então a presidente logo respondeu dizendo que "em hipótese alguma o governo brasileiro, eleito pelo voto direto e secreto vai ser influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira". Meu Deus! Basicamente houve uma verdadeira omissão de informações por parte dos dois lados.

Curiosamente os sites brasileiros não divulgaram o link da matéria intitulada "A breakdown of trust" e Dilma deu uma resposta mostrando toda a sua falta de conhecimento sobre um meio de comunicação que é uma referência mundial, classificando simplesmente como "uma revista que não é brasileira". Ela basicamente menosprezou a maior referência -por parte da imprensa- do conservadorismo atual. Quanta cultura, não?

Outra coisa que me intriga muito é por que os meios de comunicação não foram específicos ao descreverem a matéria. Aliás, só falaram da "Breakdown of trust", mas há outra também muito interessante, a "Stelled: a long-awaited recovery still fails to materialise". Esta última, inclusive, traz uma série de dados precisos que deveriam ser levados em consideração, mas foram completamente esquecidos até mesmo pelos opositores de Dilma Rousseff.

Abaixo transcreverei os principais trechos da primeira matéria mencionada:

"Apesar dos esforços cada vez mais frenéticos oficiais de estímulo, a criatura moribunda cresceu apenas 0,6% no  terceiro trimestre, o que equivale a metade da previsão de Guido Mantega. A maioria dos analistas de mercado espera que o crescimento do PIB seja inferior a 1,5% este ano.

"Os motores do crescimento que alimentaram o Brasil na última década são agora falhos. Os preços das commodities, embora ainda elevados, não são mais crescentes. Os consumidores estão usando a maior parte de sua renda para pagar os empréstimos com os quais haviam comprado carros e televisões. Em vez de depender do consumo, o crescimento agora tem de vir de uma maior produtividade e investimento.

"Nos últimos 15 meses o Banco Central reduziu os juros em 5,25 pontos percentuais, para 7,25%  (apenas dois pontos acima da inflação). Isso enfraqueceu a moeda e ajudou os fabricantes. O governo cortou impostos sobre os salários para a indústria (mas não a maioria dos serviços).

"Apesar de tudo isso o investimento caiu em cada um dos últimos cinco trimestres. Agora equivale a apenas 18,7% do PIB, contra 30% no Peru em 2011 e 27% em Colômbia e Chile".

Precisa dizer mais alguma coisa? A revista, como sempre, se baseou em bons e fortes argumentos para criticar o governo da senhora Dilma. E ela respondeu assim: "vocês não sabem que a situação deles é pior que a nossa? Pelo amor de Deus, (é pior) desde 2008. Nenhum banco, como o Leman Brothers, quebrou aqui. Nós não temos crise de dívida soberana, nossa relação dívida-PIB é de 35%, nossa inflação está sob controle. Temos 378 bilhões de dólares de reserva".

Comparando a atual situação, a crise realmente afetou mais os Estados Unidos e a União Europeia que o Brasil. Ninguém disse o contrário. Mas por que raios ela começou a falar da dívida e das reservas quando o assunto em pauta é a previsão imprecisa do senhor ministro Mantega? E ela ainda completou: "tudo isso se dá porque os juros caíram no Brasil? Os juros não podiam cair aqui?"

Eu poderia argumentar, mas é melhor citar o trecho da segunda matéria:

"A mais desagradável surpresa foi a queda dos investimentos, apesar dos esforços do governo para reduzir os custos do negócio. Um imposto sobre a moeda estrangeira e as intervenções do Banco Central têm projetado uma queda  dolorosamente forte no real de cerca de 20% desde fevereiro.

"Tudo isso soa como um sonho empresarial brasileiro, na realidade. Então por que o esperado boom de investimentos não se materializou? A abordagem arrogante e hostil do governo para com o setor privado parecem ter afugentado os investidores que esperava atrair. Preços de eletricidade, por exemplo, são os terceiros mais caros do mundo".

Viram só? A senhora Dilma não falou sobre os reflexos da baixa de juros e outras medidas. Comentou apenas que o fez e sempre se mostrou arredia quando qualificada -justamente!- como protecionista. Ao ser enquadrada pela Economist a honorável presidente simplesmente desconversou e se mostrou bastante irritada.

E mais uma vez a onerosa máquina estatal aparece sem condições de administrar tudo aquilo a que se propõe, adotando até medidas incorretas e desesperadas. O que qualificavam "privataria" é o que estão tentando incentivar agora mas não conseguem. Nenhum empresário é maluco o suficiente para acreditar na promessa de não-intervenção no governo. Já ouviram a frase "o capitalismo é baseado na confiança?" Parece que o governo brasileiro ainda não.

Antes que me esqueça, o trecho que, segundo a imprensa brasileira, sugeriu a demissão do senhor Mantega é este: "a preocupação é que a presidente seja 'intrometida-em-chefe'. Mas ela insiste que é pragmática. Se assim for, ela deve demitir Mantega, cujas previsões demasiado otimistas perderam a confiança dos investidores, e nomear uma nova equipe que seja capaz de recuperar a confiança dos negócios". Agora me digam, as matérias de Economist são mentirosas? Se forem, peço por favor que provem.

Clique neste link para ler "A breakdown of trust".

Clique neste link para ler "Stelled: a long-awaited recovery still fails to materialise".

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