quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Il ritorno di Bunga-Bunga

Monti e Berlusconi.

Até para aqueles que leem apenas sites de fofocas o apelido "Bunga-Bunga" já é bem conhecido. Trata-se do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi, conhecido pelos gravíssimos escândalos sexuais (envolvendo, supostamente, até prostitutas menores de idade) e de corrupção, que forçaram seu afastamento do governo. O problema é que, possivelmente para fugir de todas estas acusações, ele resolveu voltar a ativa e anunciou que irá concorrer a premiê nas eleições gerais de 2013.

Esta decisão não poderia ter vindo em pior momento (na verdade nenhum momento seria bom para ela), porque o governo de Mario Monti estava prestes a aprovar o orçamento para 2013 e o mercado finalmente havia deixado a Itália em paz. Mas aí aparece Berlusconi e joga o trabalho do senhor Monti no lixo. O comunicado foi feito pelo secretário do partido do Povo da Liberdade (PDL), Angelino Alfano, que é mais um boneco facilmente manipulável de Berlusconi.

Inclusive acreditava-se que Alfano seria o candidato do PDL. Estava tudo preparado para que tal fato realmente se consumasse e o próprio Alfano por vezes deixou transparecer seu desejo. No entanto, o poder de Berlusconi dentro do PDL é tamanho que ele obrigou Alfano a deixar sua ambição de lado e fazer o anúncio formal. Este período de aparente calmaria para o ex-premiê serviu para ele pressionar membros de seu partido a apoiarem-no para as próximas eleições.

Ao saber que o PDL retirou o apoio a seu governo e que Berlusconi voltaria, o senhor Mario Monti reuniu-se com o presidente Giorgio Napolitano e anunciou que se demitiria logo que o orçamento para 2013 fosse aprovado. Isso não só assustou -outra vez- o mercado como também o povo italiano. Monti não é tão popular dentro do país quanto fora, mas ainda assim tem o respaldo de um significativo número de pessoas.

Toda esta reviravolta aconteceu quanto a esquerda, representada pelo Partido Democrático (PD), se mostrou revigorada e pronta para oferecer uma alternativa aos corruptos do PDL (me recuso a chamar o PDL de Berlusconi de centro-direita). Nas primárias, o experiente Pier Luigi Bersani (ex-membro do Partido Comunista Italiano) venceu o jovem (30 anos) Matteo Renzi, atual prefeito de Florença e mais moderado (democrata-cristão). Apesar dos 60% dos votos em favor de Bersani no segundo turno, o PD também mostrou uma certa divisão.

Ainda que caótico, o cenário político para o PD aparentemente era "menos pior", porque Bersani estava liderando todas as pesquisas. Aliás, todas as pesquisas que não sugeriam uma coalização encabeçada por Monti como candidato. A verdade é os setores mais centristas clamam por Il Professore Mario Monti. Nesta semana o presidente da Ferrari, Luca Cordero di Montezemolo, apresentou uma plataforma cujo candidato seria o atual premiê. Seu apoio, ainda dentro do cenário do político, é muito forte. Conta com os centristas, descontentes do PD e do próprio PDL e até a Igreja Católica. De momento só falta sua confirmação.

Tentando diminuir a vergonha -já que as atuais pesquisas o situam atrás até do partido criado pelo comediante Beppe Grillo- Silvio Berlusconi apelou para o populismo (chegou a dizer que o spread* era uma invenção da Alemanha) e implorou o apoio do partido de extrema-direita Lega Nord, seu antigo aliado. Ele só não contava com um grande "não". Roberto Maroni, líder do partido, disse que só apoiaria o PDL se Berlusconi não fosse o candidato.

Com o cerco se fechando não houve outra alternativa a Berlusconi se não recuar. Nesta quinta-feira (13) ele anunciou que retiraria sua candidatura caso Mario Monti se apresentasse. Il Professore ainda não se manifestou. Outra possibilidade é que ele esteja visando a presidência, já que o senhor Giorgio Napolitano disse que não pretende nomear um primeiro-ministro se não houver maioria absoluta no parlamento.

Em suma, o futuro político da Itália depende de Mario Monti. Se sua candidatura realmente for lançada, ele vai angariar votos das três principais correntes partidárias e tende a ganhar. Se isso não acontecer, o PD levará certa vantagem, mas não sabemos se terá a grande maioria no parlamento ou se conseguirá formar coalização (o que de momento parece complicado).

*Spread é a diferença, ou sobrepreço, de compra e venda de títulos da dívida. No caso da UE, o cálculo é feito comparando as taxas de interesse do país (a Itália, por exemplo) com a Alemanha, nação que apresenta maior confiança. Resumindo, o spread mede a confiança dos investidores na solidez de uma economia.

Só para constar, na Itália apelidaram o neto de Mario Monti de spread. O próprio premiê contou esta história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário