sábado, 22 de setembro de 2012

Como estragar uma campanha presidencial

Pelo visto não é só carisma que falta a ele.

Como já foi dito aqui, a campanha de Mitt Romney não era das melhores desde seu início. Esperava-se uma mudança com o anúncio de Pul Ryan como vice, mas nada aconteceu. Depois foi a vez da convenção republicana ser o centro das atenções, mas nada mudou. A única coisa que chamou a atenção nesta convenção foi Clint Eastwood falando com a cadeira. À parte disso, seguiram as gafes do candidato republicano.

Não é segredo para ninguém que Romney nunca pertenceu à ala mais conservadora do Partido Republicano. Ele sempre foi moderado. Prova disso é que Paul Ryan é do Tea Party. O problema é que, para conseguir votos, Romney tem mudado constantemente de postura e tal defeito fica cada vez mais evidente na sua campanha.

Como se não bastasse tudo isso, o ex-governador de Massachusets não consegue passar muito tempo sem cometer uma grande gafe. Primeiro foi a crítica a Londres, depois ao povo palestino e, nas últimas semanas, vieram as piores. Logo após o atentado que vitimou o embaixador americano na Líbia, Chris Stevens, o candidato republicano fez fortes críticas à política externa do governo Obama.

Ele não poderia ter escolhido momento mais delicado e impróprio para fazê-lo. Além de serem críticas infundamentadas, pouquíssimas pessoas do Partido Republicano ficaram a seu lado. Esta atitude pareceu mais a de um candidato desesperado querendo votos. Ele quis se aproveitar da situação para fragilizar ainda mais Obama, mas o tiro saiu pela culatra.

Contudo, a pior das gafes veio alguns dias depois quando um modesto jornal de esquerda divulgou um vídeo em que Romney falava com milionários que iriam financiar a sua campanha. O vídeo foi gravado no mês de maio em Boca Raton, na Flórida. A declaração que gerou tanta polêmica foi a seguinte:

"Há 47% de pessoas que votarão em Obama, não importa o que aconteça. Há 47% que estão com ele, que são dependentes do governo, que acreditam ser as vítimas, que acreditam que o governo tem a responsabilidade de cuidar deles, que acreditam que eles têm direito a cuidados de saúde, à alimentação, à moradia e que isso é um direito que o governo deveria fornecer a eles. Eles vão votar no presidente de qualquer jeito...estas são as pessoas que não pagam imposto de renda...meu trabalho não é me preocupar com elas. Nunca vou convencê-las de que devem assumir a responsabilidade pessoal e cuidar de suas vidas".

Se isso parece um absurdo só pela primeira leitura, ficarão ainda mais abismados se pararem para pensar em duas coisas. A primeira é que, como disse David Brooks, Romney parece não conhecer o país onde ele vive. O candidato deveria saber que tais benefícios sociais ganharam muita força durante os governos republicanos. O grande (!) Ronald Reagan é um bom exemplo disso.

A segunda coisa é a seguinte: Romney se referiu de forma amplamente equivocada sobre os impostos. Realmente as pessoas mencionadas por ele não pagam imposto de renda, mas isso acontece porque eles não têm renda suficiente para arcar com tal despesa. Além do mais, o senhor Romney desprezou completamente o fato de estas pessoas pagarem impostos sobre seus salários.

Para finalizar, faz-se necessário citar novamente David Brooks: "O comentário de Romney é uma fantasia de country club. É o que os milionários dizem uns aos outros. Isso reforça cada vez mais a visão negativa que as pessoas têm sobre ele".

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Entrevista de Putin: Síria e a Primavera Árabe

Vladimir Putin.

Nesta quinta-feira (06) o RT divulgou a tão aguardada entrevista com o presidente russo Vladimir Putin. Pese o fato de isso ter acontecido justamente depois dos investimentos massivos do mandatário no canal, o jornalista Kevin Owen tentou tocar em algumas feridas. Neste primeiro post falarei sobre as declarações de Putin com respeito ao conflito na Síria e a Primavera Árabe.

Rússia e China usaram, desde o princípio dos conflitos, seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para evitar qualquer intervenção direta na Síria. Para o governo russo os cidadãos do país é que devem decidir qual seu futuro pelas vias diplomáticas. Quando questionado sobre o assunto e também sobre o altíssimo número de mortos, o presidente disse o seguinte:

"E por que só a Rússia precisa reconsiderar sua posição? Nossos sócios no processo de negociação não poderiam reconsiderar seu posicionamento?" Putin segue firme contra qualquer intervenção militar estrangeira e tomou como exemplo os casos de Afeganistão e Iraque, que até o presente momento seguem em uma situação bastante caótica: "nos preocupa, seguramente, a violência na Síria, mas também nos preocupa o que poderá acontecer depois das decisões correspondentes", completou o presidente.

Logicamente não é uma opinião absurda, mas o que impressiona é a frialdade de Putin quando o entrevistador falou a respeito das mortes. Sabemos que será quase impossível que o problema seja resolvido por vias diplomáticas, já que ambas as partes não têm condições de voltar atrás.

O comandante-em-chefe também falou sobre a Primavera Árabe para tentar explicar o que pode acontecer com a Síria: "Ainda é difícil dizer se são para o bem (as revoltas) ou podem trazer grandes problemas. Em todo caso, como se passaram de uma forma pouco civilizada, com tamanho nível de violência e, ao menos por enquanto, não culminaram na criação de estruturas políticas estáveis que possam resolver os problemas econômicos e sociais dos respectivos países.

"Porque, por fim, apesar de tudo os povos de tais nações, cansados dos regimes passados, esperam dos novos governos decisões eficazes sobretudo no que tange a problemas sociais e econômicos. Mas se não há estabilidade política estes problemas não poderão ser resolvidos".

Sua declaração não poderia ser mais contraditória. Primeiramente ele criticou os regimes ditatoriais anteriores às revoltas mas logo depois se mostrou preocupado com a forma que tomaram os acontecimentos e a estabilidade dos países. Mas como é possível derrubar ditadores que estão há muitos anos no poder e criar uma "atmosfera habitável" em menos de dois anos?

Ele criticou Tunísia, Egito e Líbia. Os três já passaram por eleições e estão tentando entrar nos eixos. Francamente, isso está acontecendo de maneira veloz. Na Tunísia, o único "desconforto" surgido pós-revolução foram os protestos dos salafistas, que estão se intensificando este ano.

No Egito, a Irmande Muçulmana assumiu o poder, conseguiu afastar a cúpula do exército que estava em torno do governo desde o regime de Hosni Mubarak e estão governando de uma forma inesperada: brandamente. Nada de sharía, preconceito contra coptas ou mesmo apoio ao Irã. Inclusive na reunião dos países não-alinhados (NAM), o presidente Mohamed Morsi criticou a postura iraniana de apoio à Síria.

Na Líbia as coisas realmente foram mais complicadas. Mas também é preciso ressaltar que, ao contrário daquilo que ocorreu nos dos países anteriormente mencionados, Muamar Kadafi tinha o apoio de parte da população e contava com um exército ainda mais forte (semelhante à situação de Al-Assad na Síria). Ademais, houve conflitos tribais após a sua queda como mencionou Putin. Ainda assim eleições legislativas foram realizadas e uma coalizão pró-ocidental, isto é, não fundamentalista, foi instaurada.

Podem conferir a entrevista na íntegra através deste link