quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Quem na verdade é Mitt Romney?

Certas imagens nem precisam de legenda...

Após a derrota para o presidente Barack Obama o candidato republicano Mitt Romney se dirigiu a seus eleitores agradecendo pelo apoio e pedindo confiança no comandante-em-chefe para que ele possa fazer um bom trabalho. Mas nem sempre esta serena imagem de Romney foi transmitida aos eleitores durante a campanha.

A controvérsia do ex-governador de Massachusetts começou nas primárias quando, ao contrário do esperado, ele se mostrou um tanto radical em seus pontos de vista. As principais colocações um tanto quanto estranhas dele se concentraram na política externa (principalmente com as gafes) e na imigração. Quanto ao aborto e o casamento homossexual houve realmente uma mudança de opinião. Mas isso aconteceu há muito tempo e não deve ser levado em consideração no que diz respeito à atual campanha.

Mesmo se aproximando da ala mais conservadora do Partido Republicano - Tea Party- Romney não agradou muito e sofreu demais nas primárias. Por vezes esteve atrás do católico ultraconservador Ricky Santorum (que prometia declarar guerra ao Irã assim que eleito). Por sorte, ao menos a frieza do empresário  permaneceu e, aos poucos, ele foi conseguindo contornar a situação.

No entanto, as primárias lhe deram dois maus resultados: grandes gastos (muito além do esperado) e uma imagem distorcida que foi construída (deturpada?) por ele mesmo. Para muitas pessoas é difícil de entender por que ele fez isso. Realmente não foi a melhor atitude a ser tomada mas, naquele momento, se converteu na salvação de Romney. Todos devem ter em mente que, caso ele se mostrasse o moderado que é (e sempre foi, até as primárias), a vitória de Santorum seria evidente e nem mesmo uma parcela do eleitorado americano votaria nele. Resultado: Obama ganharia de lavada. Aliás, o presidente concorreria sozinho à reeleição.

Notem que até o momento o movimento Tea Party foi mencionado apenas uma vez. Não é mero acaso. Foi de propósito mesmo. O que acontece é que não quero entrar em detalhes sobre esta ala ultraconservadora do Partido Republicano porque pretendo falar dela em outro post, onde o foco será o partido. Por enquanto saibam de uma coisa: o Tea Party foi decisivo para esta guinada para a direita de Mitt Romney.

O empresário estava entre a cruz e a espada. Se ele mantivesse sua postura moderada ia lutar contra a ira do Tea Party. Graças a esta ameaça, preferiu encarnar um político que não é e perdeu a confiança de muitos republicanos, mas principalmente de indecisos que não estavam tão contentes assim com Obama e que seguramente votariam em Romney caso ele se mostrasse uma boa alternativa.

A escolha do vice foi mais uma forma de se aproximar dos mais conservadores e oferecer uma verdadeira reforma econômica aos EUA. O jovem congressista Paul Ryan, de Wisconsin, é conhecido por ousar em suas ideias econômicas e ficou à frente do senador hispano Marco Rubio (ainda que a primeira opção de Romney para vice seria o governador de New Jersey, Chris Christie).

Após passar pelo primeiro obstáculo, o das primárias, Romney logo teve a árdua tarefa de deixar para trás o segundo: a imagem de empresário antipático que não tem a mínima noção das necessidades do povo. Tudo seria mais fácil (menos difícil?) se ele tivesse uma vida privada mais exposta como a de tantos outros candidatos. O problema é que todos -inclusive a imprensa- só conheciam o Romney profissional ou, quando muito, o Romney mórmon. Pouco sabiam do avô, do pai ou do marido. Ademais, carisma como o de Obama é algo que ele não tem.

O cenário só piorou quando um modesto jornal de esquerda divulgou um vídeo onde o ex-governador falava com benfeitores de sua campanha em Boca Ratón, na Florida. Neste fatídico vídeo Romney fez a famosa declaração dos 47% e deixou os democratas nas nuvens. Para muitos as eleições acabaram no dia em que este vídeo foi ao ar. Mas, para surpresa geral, vieram os debates e Romney mostrou aquela que é a sua verdadeira face.

No primeiro dos três ele ganhou "de lavada" de um apático e estranho presidente Obama (que deve ter sido afetado pela "síndrome do primeiro debate) e subiu rapidamente nas pesquisas. A força em suas palavras, a vontade, as alternativas econômicas e as críticas ao governo o fizeram, pela primeira vez, passar confiança ao povo americano.

No segundo debate a política interna ainda foi o foco principal e Romney também foi bem. Ele enfrentou um Obama já "acordado" e disposto a mostrar que estava no páreo para vencer, mas nem por isso se intimidou. Aliás, o que aconteceu foi que os dois intimidaram os pobres eleitores indecisos. Em dado momento parecia que iam perder o controle. De uma forma ou de outra, deu empate.

A terceira e última altercação (que por sinal foi muito chata) teve como tema política externa. Na ocasião notamos maior cautela de Romney, que se limitou a concordar com Obama em muitas questões e, sempre que pôde, deu um jeito de trazer o diálogo para a sua área, a economia. Mais um empate (este, por sinal, um 0x0 bem monótono).

No final das contas Obama voltou a subir nas pesquisas e os dois candidatos ficaram oscilando entre empates e pequenas vantagens para um e para outro. As campanhas nos estados indecisos se intensificaram. Mas aí veio Sandy. A tragédia que vitimou 87 pessoas serviu para dar uma pausa na corrida eleitoral. Seria desumano continuar e Obama precisava tomar à frente da situação.

Querendo ou não, a imagem humanitária do comandante-em-chefe o ajudou demais na campanha. Ele arregaçou as mangas e foi trabalhar como realmente deveria, mas o que tocou o coração dos americanos foi ver suas expressões de choque e visível abalo com a tragédia. Talvez Romney jamais conseguiria se mostrar assim. Não por insensibilidade, mas por personalidade. Outro ponto para o carisma de Obama.

Quando o grande dia chegou ainda havia esperanças entre os republicanos, mas elas foram extirpadas quando Obama venceu na Florida. Principalmente porque, segundo as pesquisas, o estado estava mais para Romney e ainda assim o caminho até a Casa Branca seria um tanto complicado. Dignamente Mitt Romney aceitou a derrota e cumprimentou o adversário.

Mas o mais revoltante foi ver a reação de parte da imprensa conservadora e de gente do Partido Republicano. O Tea Party criticou-o por ser muito moderado (!) e a ala mais liberal republicana o taxou de incompetente. E pensar que ao menos parte desta situação seria diferente se ele, como outros Republicanos, tivesse bajulado Rupert Murdoch. Não o fez e precisou caminhar com as próprias pernas até o fim para ser considerado o grande culpado pela derrota.




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