domingo, 21 de outubro de 2012

Atentado terrorista acaba com a paz que reinava em Beirute


Últimas homenagens a Hassan.
Na última sexa-feira (19) a cosmopolita Beirute, capital do Líbano, foi palco de algo que não se via desde 2008: um ataque terrorista. No distrito de Ashrafiyeh (bairro cristão) um carro-bomba explodiu, matou oito pessoas e deixou mais de 100 feridas. Dentre os mortos estava o chefe da inteligência libanesa, Wissam Al-Hassan, homem que tinha muitos inimigos poderosos.

Hassan era um sunita influente dentro do cenário libanês. Muito conhecido por investigar casos um tanto polêmicos. O primeiro deles talvez tenha sido um dos mais emblemáticos da história libanesa, o assassinato do premiê Rafik Hariri no ano de 2005. Há poucos anos o senhor Hassan, que investigou o caso desde o início, descobriu que agentes sírios e membros do grupo terrorista Hezbollah estavam envolvidos. Mas, misteriosamente, os indícios perderam força.

Ele também foi responsável por descobrir espiões israelenses em solo libanês juntamente com o ministro pró-sírio Michel Samaha. O curioso é que este mesmo Samaha também foi alvo de investigações de Hassan. O chefe da inteligência descobriu que o senhor Samaha planejou junto a Bashar Al-Assad, ditador sírio, uma série de atentados no Líbano. Um motivo para assassiná-lo, não acham?

Os suspeitos: Hezbollah e Síria

Ainda que sejam citados separadamente como suspeitos, o grupo terrorista caminha junto com o regime sírio*. Ambos, após o incidente, declararam que não tinham qualquer relação com ele e que repudiaram o andamento dos fatos apesar das evidentes rixas com Hassan.

A Síria teria todos os motivos para perpetrar tal ataque. Alguns analistas, inclusive, o compararam em magnitude ao que vitimou a cúpula do presidente sírio há poucos meses atrás. Além disso, seria mais uma estratégia de Assad para desviar o foco da matança que acontece em seu país (a oposição já contabiliza cerca de 35 mil mortos), como fez -e está fazendo- na vizinha Jordânia.

Para o jornalista Rami Khouri, "quem fez este ataque queria entregar uma mensagem de que eles podem alcançar qualquer pessoa, que podem atingir o mais alto nível da inteligência".

Ele concluiu dizendo que o atentado em Beirute é uma consequência lógica do que vem acontecendo na Síria nos últimos 19 meses: "tem havido um aumento constante da violência e agora vamos para a próxima etapa de atentados, assassinatos e talvez até confrontos".

As disputas pelo poder no Líbano

Logo após o atentado parte da população foi às ruas protestar contra o Hezbollah (que já mandou militantes defenderem os bairros xiitas) e pedir a saída do primeiro-ministro sunita Najib Mikati -muitos acreditam que ele está disposto a enfrentar o grupo terrorista xiita- que chegou a pedir demissão, mas foi impedido pelo presidente Michel Suleiman.

Ele também atendeu a um apelo externo, visto que muitos chefes de estado -inclusive o presidente francês François Hollande- pediram que ficasse para manter a estabilidade no governo libanês. Para se ter uma ideia, a situação do governo no país é a seguinte: o presidente Suleiman é cristão (maronita), o premiê é sunita e a maioria no Parlamento é xiita -representada pelo Hezbollah, que para quem não sabe é um partido político.

*em setembro o portal Al-Arabiya teve acesso a documentos secretos do governo sírio nos quais constavam provas de que militantes do Hezbollah foram enviados para a Síria logo no início do levante popular.

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