sábado, 6 de outubro de 2012

Será mesmo que o "Sonho Georgiano" foi realizado?

Reparem no que está escrito atrás. ECONOMIST.

Na semana passada tivemos eleições parlamentares na Geórgia e, para grande surpresa do Mundo Ocidental, os opositores do partido Sonho Georgiano venceram o Movimento Nacional Unido do presidente Mikheil Saakashvili e terão 82 deputados no Parlamento.

Estas eleições demonstraram que o povo georgiano queria mudança mas não sabia muito bem como fazê-la. A verdade é que o Sonho Georgiano é uma coalizão de pequenos partidos que se uniram por dois motivos: o ódio por Saakashvili e o dinheiro do bilionário Bidzina Ivanishvili. Agora nada mais os segura juntos. Diferentemente do grego Syriza, que uniu esquerda radical e moderada, o Sonho Georgiano conseguiu juntar até mesmo liberais (Alasania), nacionalistas (Frente Nacional), democratas livres e centro-esquerdistas. Bagunça total.

O responsável por tudo isso foi o senhor Bidzina Ivanishvili. Mas ele tem mesmo tanto dinheiro a ponto de unir partidos tão distintos? Sim! Sua fortuna é avaliada em 6,4 bilhões de dólares, pouco menos da metade do PIB georgiano (14, 37 bilhões de dólares). Como se não bastasse isso, ele é um grande aliado de Vladimir Putin, haja vista que construiu sua fortuna na Rússia e tem o passaporte do país. Inclusive um tribunal local revogou sua cidadania georgiana já que ele também possui passaporte francês. Depois do incidente o futuro premiê disse que abdicará de ambos passaportes.

O MNU, por outro lado, foi o grande derrotado. Fazendo um breve retrospecto, o partido e seu líder -o presidente Mikheil Saakashvili- chegaram ao poder efetivamente em 2004, após o sucesso da Revolução Rosa um ano antes. Para quem não sabe, este movimento pacífico derrubou o presidente-quase-ditador Eduard Shevarnadze graças a um massivo protesto de pessoas que se dirigiram ao Parlamento com rosas nas mãos pedindo a saída do mandatário.

De lá para cá o senhor Saakashvili, que é (bastante) pró-ocidental, promoveu um grande desenvolvimento no país, sobretudo no que tange educação e segurança. A abertura a investimentos externos contribuiu demais para estes novos projetos. As forças policiais, que eram tão corruptas quanto Shevarnadze, foram aos poucos substituídas e reformuladas. O progresso havia chegado.

Conhecem aquele clichê que diz "o poder subiu à cabeça?" Pois então, foi exatamente esta a acusação feita contra Saakashvili que motivou a derrota de seu partidos nas eleições parlamentares. Apesar de sua imagem externa ter ficado pouco desgastada após o conflito contra a Rússia por causa da Ossétia do Sul em 2008, a população local ficou muito descontente.

Ademais, ao longo do tempo ele promoveu reformas limitando os poderes do presidente e ampliando os do Parlamento e do primeiro-ministro. Segundo alguns analistas esta foi uma jogada estratégica para que ele pudesse abandonar o cargo de presidente e assumir o de premiê. Basicamente como Dmitry Medvedev e Vladimir Putin fizeram na Rússia. Neste caso seu Medvedev seria o ministro do interior Vano Merabishvili.

Pelo visto a jogada não deu certo. Agora a Geórgia irá experimentar -ao menos por um ano- o que é ter um premiê e um presidente divergentes. Ainda que seus atuais poderes o permitissem escolher o novo chanceler, Saakashvili foi inteligente e deixou tudo nas mãos do Parlamento, que colocará Ivanishvili no poder.

No ano que vem serão realizadas eleições presidenciais e Saakashvili não poderá concorrer para um terceiro mandato consecutivo. Isso gera uma dúvida enorme acerca da situação política do país porque poucos nomes no MUN despontaram até o momento. Além disso, o Sonho Georgiano é fragmentado demais para escolher um candidato.

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