domingo, 3 de junho de 2012

O inferno se chama Síria!

Assad se pronunciando no Parlamento. 

Há pouco mais de um ano, dentro da denominada Primavera Árabe, o povo sírio se revoltou contra o autoritarismo do clã Assad -que está no poder há 40 anos- e passou a protestar. Mas o presidente Bashar Al-Assad, como seu pai, não estava disposto a aceitar revoltosos e coibiu, com violência, os protestos. O problema é que não parou por aí, e a crise ainda se arrasta sem previsão de um final feliz. 

Inicialmente os protestos não surtiram efeito como em outros países porque a maioria da população estava com Assad, e a oposição se mostrou muito desorganizada. Com o tempo, mais pessoas foram aderindo às revoltas e a coisa foi tomando forma cada vez mais violenta. Estima-se que mais de 10 mil pessoas morreram nos confrontos, sendo 2600 delas ligadas às autoridades.

Desde que a violência aumentou no país o Conselho de Segurança da ONU alertou Assad das consequências mas, respaldado por seus grandes aliados China e Rússia, ele seguiu massacrando a sangue frio seus opositores. Tudo parecia acabado quando a cidade de Homs, conhecida internacionalmente como bastião rebelde, foi tomada pelo exército. Mas não foi o que aconteceu. O Exército Sírio Livre na verdade fez apenas uma retirada estratégica para voltar ao combate.

O massacre de Houla

No começo da semana passada surgiu a notícia de mais um massacre. Desta vez na cidade de Houla, onde 108 pessoas morreram (dentre elas 49 crianças com menos de 10 anos). Me arrepio todas as vezes que leio ou escrevo isso. Em resposta, muitos países expulsaram embaixadores sírios e chefes de Estado condenaram veementemente tal atitude de repressão por parte do governo. Até o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, se pronunciou em tom de desaprovação.

Mas há provas de que foram partidários de Assad? Sim! Além dos depoimentos das pessoas que sobreviveram, os próprios observadores da inútil Liga Árabe viram os estragos e, em seu relatório, afirmaram que tamanho estrago só poderia ter sido feito pelo exército sírio. Mas logicamente quem fez as cruéis execuções não foi exatamente o exército, e sim a milícia Shabiha, formada por muçulmanos alauitas (assim como Assad).

Sabem o que é pior? Neste domingo o senhor Assad se pronunciou e, em um discurso inflamado no Parlamento da capital Damasco, disse que o governo não foi responsável pelo massacre e culpou aqueles a quem chama de "terroristas".

O perigo da oposição

Boa parte da oposição síria é formada por pessoas simples que querem ter seus direitos garantidos e também por militares desertores que se recusaram a acatar as terríveis ordens de Assad e foram até torturados. Mas não se enganem, existem vários oportunistas aproveitando-se de tais circunstâncias. Dentre eles destacam-se muitíssimos terroristas que estão oferecendo apoio e só esperando a hora de cobrar este favor.

Estes são os mais perigosos de todos. Aí vem o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney (o qual admiro apesar da declaração), dizer que Obama não está fazendo nada e que uma boa alternativa seria armar a oposição. Primeiro, Obama realmente não está fazendo muita coisa porque sua maior preocupação -com razão- é o Irã. Segundo, será que ele não viu o que aconteceu no Afeganistão e no Iraque? Ele quer que a Síria tenha o mesmo fim? Lamentável.

Existe alguma possível solução?

Como disse o respeitabilíssimo professor Richard Falk, querendo ou não a diplomacia é o melhor resultado: "o que resta para preencher a lacuna entre o inaceitável e o impossível é a diplomacia, que até agora foi inútil, mas dadas as outras possibilidades é a única maneira de se reverter este caótico quadro na Síria".

Inúmeras pessoas estão criticando Kofi Annan e seu "plano de seis pontos", inicialmente aceito por Assad mas que acabou sendo esquecido. O armistício entre o governo e os rebeldes durou poucos dias. A rigor acabou com o massacre de Houla. O problema é que, com o apoio passional de Vladimir Putin, a ONU não pode passar por cima de seu poder de veto e mandar militares atacarem a Síria. Portanto, o que resta a fazer é esperar e torcer para que o inferno não fique ainda maior.

Agora a situação crítica também passou a se espalhar para zonas próximas do país. O Líbano, que ainda se recupera de uma violenta guerra civil, se tornou o principal receptor de refugiados sírios e neste fim de semana foi palco de um confronto entre sunitas e alauitas, dentro da cidade de Trípoli, que resultou em 8 mortos. Ademais, o líder do grupo terrorista Hamas (que é patrocinado por Assad), Hasan Nasrallah, exigiu a libertação de um xiita que foi sequestrado pelos rebeldes sírios (sunitas na sua maioria).

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