sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O grupamento armado sírio mais organizado está nas mãos de um líbio

Mahdi Al-Harati. Facebook.

Não, o título não está errado. Realmente é um líbio quem comanda o grupo denominado Liwa Al-Ummah (A Bandeira da Nação). Depois de enfatizar tanto a desorganização do Exército Sírio Livre e até mesmo as influências da organização terrorista Al-Qaeda, é muito importante mencionar que existe este bastião revolucionário organizado e sem quaisquer aspirações fanáticas (Sharía).

Quem nos trouxe esta história à tona foi a maravilhosa jornalista Mary Fitzgerald, em artigo publicado no Foreign Policy, onde inclusive entrevistou Mahdi Al-Harati, líbio com passaporte irlandês, que está à frente do grupo. Tal relato serve para desmistificar ao menos um pouco a oposição síria (principalmente por parte dos meios de comunicação orientais, que não fazem uma boa propaganda).

Mas o que teria motivado Al-Harati a lutar na Síria? Antes de responder a este questionamento falaremos sobre a questão de sua terra-natal, a Líbia. Não restam dúvidas de que o autoritarismo do coronel Muamar Kadafi culminou na sua decisão de pegar em armas. Mesmo antes de a revolução "estourar" ele já estava na Líbia. Antes disso vivia com sua esposa na Irlanda e lecionava árabe.

Ao verem seu sucesso e, sobretudo, a sua visão política libertadora não-baseada no fundamentalismo islâmico, influentes opositores sírios ofereceram condições para que ele pudesse formar um grupo armado. Em nenhum momento ele é considerado um mercenário, haja vista que o financiamento vai todo para o Liwa Al-Ummah. Os combatentes possuem não só armas, como também uniformes e inclusive um registro com foto e documentação que é feito por parentes do xeque Al-Harati na Irlanda.

O próprio chefe do grupo diz que há líbios -de sua confiança- no grupo, mas faz questão de relatar que 90% dos já 6 mil combatentes são sírios cansados da ditadura de Assad e também do caos da oposição.

"Havia uma sensação de crescente frustração entre a Síria e os thuwar (revolucionários) sobre sua falta de coordenação. Eles me perguntaram se eu poderia ajudá-los a treinar e se organizar, e eu concordei", afirmou Harati.

Ele também se refere a importância do treinamento para seus soldados, muitos dos quais nunca pegaram em armas: "Estamos aqui para treinar e ajudar os rebeldes da Síria -muitos são médicos, engenheiros e professores- usando a nossa experiência da revolução na Líbia".

A organização é tamanha que, segundo Mary Fitzgerald, aos combatentes também são passadas táticas de guerra. Cá entre nós, isso dificilmente acontece no ESL, até porque quase não há treinamento para eles. Muitos simplesmente passam para o lado dos rebeldes, precisam comprar uma Kalashnikov e atirar. E isso contra um exército preparado é quase uma sentença de morte.

O Liwa Al-Ummah tem até uma página no facebook, onde divulga seus ideais e até mesmo fotos dos combatentes. Há poucos dias, eles exibiram um vídeo no qual muitos rebeldes aderiam ao movimento. Parece que esta atitude tem crescido nos últimos meses. Para um grupo que foi criado neste ano, os números são muitos positivos.

Para aqueles que temem um radicalismo após a iminente queda de Bashar Al-Assad, Harati se posicionou a favor de uma democracia para todas as etnias presentes no país, incluindo os alauítas. O xeque também quer fazer parte do conselho de transição que deverá se formar como ocorreu na Líbia.

Outro objetivo do Liwa Al-Ummah é constituir, futuramente, um partido político na Síria. Todas estas ideias e ações soam como um alívio, já que o desespero nas declarações de pessoas que viram na Al-Qaeda sua única forma de lutar era cada vez mais comum. 

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