sexta-feira, 1 de março de 2013

Pobres italianos

Diferenças? O cabelo, talvez. TELEGRAPH.

No início desta semana foram realizadas eleições na Itália e o resultado não poderia ser mais caótico. O Partido Democrata (coalizão de centro-esquerda) de Pier Luigi Bersani venceu, como todos esperavam, mas com pequena vantagem sobre O Povo da Liberdade (partido de Berlusconi) tanto na Câmara quanto no Senado, o que dificultará -e muito- a formação de uma sólida coalizão de governo.

Na câmara (630 cadeiras no total) o PD conquistou 29,54% do eleitorado, o que significou a conquista de 345 cadeiras (contando também os assentos de bonificação dados ao vencedor). O PDL teve 29,18% dos votos e ficou 125 cadeiras. No Senado (cujo total de cadeiras é 315), a vantagem esquerdista também foi pequena: 31,63% para Bersani e 30,72% para Berlusconi. É importante mencionar que há menos de três meses as intenções de voto do PDL não passavam de 14%. Mas ainda não é o momento de entrarmos no jogo político de Il Cavaliere.

Como se já não bastasse esta pequena vantagem para o PD, o Movimento 5 Estrelas do comediante (?) Beppe Grillo foi o terceiro partido mais votado tanto na Câmara quanto no Senado. Na primeira conquistou assustadores 25,55%, que se traduz em nada menos do que 109 representantes. No Senado foram 23,79%, ou seja, 54 cadeiras. As estatísticas dizem que um em cada quatro italianos votou em Grillo.

Il Professore Mario Monti, que inicialmente não queria entrar na política findado seu governo tecnocrático, mudou de ideia e possivelmente saiu muito desgostoso. Conquistou 19 cadeiras no Senado (9,13%) e colocará 47 parlamentares na Câmara (10,56%). Claramente suas medidas de austeridade que tanto agradaram a UE foram impopulares no âmbito interno. Agora o Partido Popular Europeu, precisará engolir Berlusconi novamente, depois de tê-lo chutado há não muito tempo e acolhido o senhor Monti.

O populismo venceu

Se é que houve um grande vencedor nestas eleições foi o populismo. As promessas vagas e completamente infundamentadas de Berlusconi e Beppe Grillo conquistaram um povo vulnerável e abalado por uma forte crise econômica. Mesmo que alguém duvide, é inegável que o populismo é uma das armas políticas mais cruéis e covardes que existem.

Berlusconi (o Bunga-Bunga) prometeu reembolsar os contribuintes de impostos impopulares. E, pasmem! Ainda assim ele não foi deliberadamente acusado de compra de votos. É provável que exista a dúvida acerca de por que o dono do Milan recebeu tantos votos mesmo sendo acusado de infinitos delitos (inclusive o de manter relações sexuais com uma garota de 17 anos, Ruby). A resposta é simples: além de promover medidas descaradas e populistas, ele é dono de grandes veículos de comunicação italianos, ou seja, tem uma influência abissal na mídia que lhe permite se acercar à população de uma forma mais direta.

E como explicar o fenômeno Grillo? Pura e simplesmente indignação. Com alardeantes índices de corrupção (dentre os maiores da Europa), recortes impopulares e políticos que não passam confiança alguma, as pessoas preferiram votar em um partido que, apesar de maluco e não ter um plano de governo concreto, é ao menos honesto e fará o possível para dificultar a vida dos corruptos (pelo menos a princípio). Os eleitores de Grillo são, na sua maioria, homens mais velhos, de melhor nível educacional e acima da média de desemprego¹.

Chegou a hora da verdade

Nesta sexa-feira (1º), o presidente Giorgio Napolitano comunicou que fará o possível para que uma coalizão seja formada e refutou quaisquer possibilidades de retorno imediato às urnas: "Eu não estou interessado em votar novamente". Ademais, disse que o próximo presidente -seu mandato termina em maio- seguramente pensará a mesma coisa.

O problema é que a única coalizão de governo mais provável, entre Bersani e Monti, seria demasiado frágil e insuficiente para guiar o país. Logo após a divulgação dos resultados oficiais Grillo fez absoluta questão de ressaltar que, a priori, não aceitaria entrar em qualquer coalizão de governo. Ademais, descreveu Bersani como "um homem morto falando". 

Até mesmo a possibilidade de uma grande coalizão PDL-PD chegou a ser cogitada, mas ambos refutaram tal ideia absurda. A imprensa italiana, mesmo exagerando em muitos aspectos, tem razão em dizer que, de momento, a Itália é ingovernável. Se estiverem pensando em uma coalizão Monti-Berlusconi, esta também está descartada. O PDL rompeu com o governo do tecnocrata no fim do ano passado visando justamente as eleições.

Segundo a Reuters², se Bersani não conseguir formar um governo ele poderá ser substituído pelo jovem Matteo Renzi, prefeito de Florença. Ele pertence à ala mais moderada do PD (Bersani, por outro lado, era do Partido Comunista) e perdeu nas primárias do partido por uma pequena diferença. Por enquanto, o cenário político italiano é quase tão caótico quanto na época em que Berlusconi era o primeiro ministro.

¹ "Circus Maximus (II). Caio Blinder. http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/italia/circus-maximus-ii/

² "Italian president rules out new vote as parties wrangle". Reuters World. http://www.reuters.com/article/2013/03/01/us-italy-vote-idUSBRE9200EJ20130301

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