Reparem no que está escrito atrás. ECONOMIST. |
Na semana passada tivemos eleições parlamentares na Geórgia e, para grande surpresa do Mundo Ocidental, os opositores do partido Sonho Georgiano venceram o Movimento Nacional Unido do presidente Mikheil Saakashvili e terão 82 deputados no Parlamento.
Estas eleições demonstraram que o povo georgiano queria mudança mas não sabia muito bem como fazê-la. A verdade é que o Sonho Georgiano é uma coalizão de pequenos partidos que se uniram por dois motivos: o ódio por Saakashvili e o dinheiro do bilionário Bidzina Ivanishvili. Agora nada mais os segura juntos. Diferentemente do grego Syriza, que uniu esquerda radical e moderada, o Sonho Georgiano conseguiu juntar até mesmo liberais (Alasania), nacionalistas (Frente Nacional), democratas livres e centro-esquerdistas. Bagunça total.
O responsável por tudo isso foi o senhor Bidzina Ivanishvili. Mas ele tem mesmo tanto dinheiro a ponto de unir partidos tão distintos? Sim! Sua fortuna é avaliada em 6,4 bilhões de dólares, pouco menos da metade do PIB georgiano (14, 37 bilhões de dólares). Como se não bastasse isso, ele é um grande aliado de Vladimir Putin, haja vista que construiu sua fortuna na Rússia e tem o passaporte do país. Inclusive um tribunal local revogou sua cidadania georgiana já que ele também possui passaporte francês. Depois do incidente o futuro premiê disse que abdicará de ambos passaportes.
O MNU, por outro lado, foi o grande derrotado. Fazendo um breve retrospecto, o partido e seu líder -o presidente Mikheil Saakashvili- chegaram ao poder efetivamente em 2004, após o sucesso da Revolução Rosa um ano antes. Para quem não sabe, este movimento pacífico derrubou o presidente-quase-ditador Eduard Shevarnadze graças a um massivo protesto de pessoas que se dirigiram ao Parlamento com rosas nas mãos pedindo a saída do mandatário.
De lá para cá o senhor Saakashvili, que é (bastante) pró-ocidental, promoveu um grande desenvolvimento no país, sobretudo no que tange educação e segurança. A abertura a investimentos externos contribuiu demais para estes novos projetos. As forças policiais, que eram tão corruptas quanto Shevarnadze, foram aos poucos substituídas e reformuladas. O progresso havia chegado.
Conhecem aquele clichê que diz "o poder subiu à cabeça?" Pois então, foi exatamente esta a acusação feita contra Saakashvili que motivou a derrota de seu partidos nas eleições parlamentares. Apesar de sua imagem externa ter ficado pouco desgastada após o conflito contra a Rússia por causa da Ossétia do Sul em 2008, a população local ficou muito descontente.
Ademais, ao longo do tempo ele promoveu reformas limitando os poderes do presidente e ampliando os do Parlamento e do primeiro-ministro. Segundo alguns analistas esta foi uma jogada estratégica para que ele pudesse abandonar o cargo de presidente e assumir o de premiê. Basicamente como Dmitry Medvedev e Vladimir Putin fizeram na Rússia. Neste caso seu Medvedev seria o ministro do interior Vano Merabishvili.
Pelo visto a jogada não deu certo. Agora a Geórgia irá experimentar -ao menos por um ano- o que é ter um premiê e um presidente divergentes. Ainda que seus atuais poderes o permitissem escolher o novo chanceler, Saakashvili foi inteligente e deixou tudo nas mãos do Parlamento, que colocará Ivanishvili no poder.
No ano que vem serão realizadas eleições presidenciais e Saakashvili não poderá concorrer para um terceiro mandato consecutivo. Isso gera uma dúvida enorme acerca da situação política do país porque poucos nomes no MUN despontaram até o momento. Além disso, o Sonho Georgiano é fragmentado demais para escolher um candidato.
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