sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Entrevista de Putin: Síria e a Primavera Árabe

Vladimir Putin.

Nesta quinta-feira (06) o RT divulgou a tão aguardada entrevista com o presidente russo Vladimir Putin. Pese o fato de isso ter acontecido justamente depois dos investimentos massivos do mandatário no canal, o jornalista Kevin Owen tentou tocar em algumas feridas. Neste primeiro post falarei sobre as declarações de Putin com respeito ao conflito na Síria e a Primavera Árabe.

Rússia e China usaram, desde o princípio dos conflitos, seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para evitar qualquer intervenção direta na Síria. Para o governo russo os cidadãos do país é que devem decidir qual seu futuro pelas vias diplomáticas. Quando questionado sobre o assunto e também sobre o altíssimo número de mortos, o presidente disse o seguinte:

"E por que só a Rússia precisa reconsiderar sua posição? Nossos sócios no processo de negociação não poderiam reconsiderar seu posicionamento?" Putin segue firme contra qualquer intervenção militar estrangeira e tomou como exemplo os casos de Afeganistão e Iraque, que até o presente momento seguem em uma situação bastante caótica: "nos preocupa, seguramente, a violência na Síria, mas também nos preocupa o que poderá acontecer depois das decisões correspondentes", completou o presidente.

Logicamente não é uma opinião absurda, mas o que impressiona é a frialdade de Putin quando o entrevistador falou a respeito das mortes. Sabemos que será quase impossível que o problema seja resolvido por vias diplomáticas, já que ambas as partes não têm condições de voltar atrás.

O comandante-em-chefe também falou sobre a Primavera Árabe para tentar explicar o que pode acontecer com a Síria: "Ainda é difícil dizer se são para o bem (as revoltas) ou podem trazer grandes problemas. Em todo caso, como se passaram de uma forma pouco civilizada, com tamanho nível de violência e, ao menos por enquanto, não culminaram na criação de estruturas políticas estáveis que possam resolver os problemas econômicos e sociais dos respectivos países.

"Porque, por fim, apesar de tudo os povos de tais nações, cansados dos regimes passados, esperam dos novos governos decisões eficazes sobretudo no que tange a problemas sociais e econômicos. Mas se não há estabilidade política estes problemas não poderão ser resolvidos".

Sua declaração não poderia ser mais contraditória. Primeiramente ele criticou os regimes ditatoriais anteriores às revoltas mas logo depois se mostrou preocupado com a forma que tomaram os acontecimentos e a estabilidade dos países. Mas como é possível derrubar ditadores que estão há muitos anos no poder e criar uma "atmosfera habitável" em menos de dois anos?

Ele criticou Tunísia, Egito e Líbia. Os três já passaram por eleições e estão tentando entrar nos eixos. Francamente, isso está acontecendo de maneira veloz. Na Tunísia, o único "desconforto" surgido pós-revolução foram os protestos dos salafistas, que estão se intensificando este ano.

No Egito, a Irmande Muçulmana assumiu o poder, conseguiu afastar a cúpula do exército que estava em torno do governo desde o regime de Hosni Mubarak e estão governando de uma forma inesperada: brandamente. Nada de sharía, preconceito contra coptas ou mesmo apoio ao Irã. Inclusive na reunião dos países não-alinhados (NAM), o presidente Mohamed Morsi criticou a postura iraniana de apoio à Síria.

Na Líbia as coisas realmente foram mais complicadas. Mas também é preciso ressaltar que, ao contrário daquilo que ocorreu nos dos países anteriormente mencionados, Muamar Kadafi tinha o apoio de parte da população e contava com um exército ainda mais forte (semelhante à situação de Al-Assad na Síria). Ademais, houve conflitos tribais após a sua queda como mencionou Putin. Ainda assim eleições legislativas foram realizadas e uma coalizão pró-ocidental, isto é, não fundamentalista, foi instaurada.

Podem conferir a entrevista na íntegra através deste link

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